segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Literatura Enlutada

Benedito Nunes: uma vida dedicada à Academia
Em seus 81 anos, Benedito Nunes teve mais da metade deles dedicados à produção intelectual, pesquisa e ensino. A estreia ocorreu no suplemento literário do jornal paraense Folha do Norte, nos idos de 1950. Em entrevista à Unicamp, Bené relatou, com a empolgação de outrora, os primeiros ensaios feitos:
“Era um suplemento muito bom, que publicava de trovadores e poetas locais a nomes consagrados. Eu escrevia em forma de retalhos, uma mistura de literatura e filosofia, como trechos de uma confissão – ‘Confissões solitárias’. Passei a colaborar com o Jornal do Brasil, no tempo em que Mário Faustino tinha uma página de poesia, e fui chamado também pelo O Estado de S. Paulo”


Os primeiros passos nas letras públicas rumaram a trabalhos maduros, que renderam ao escritor notoriedade, como pela encenação de Morte e Vida Severina, no 1º Festival Nacional de Teatro Amador (1958), no Recife, o que lhe valeu o prêmio de melhor adaptação teatral.




Entre suas obras merecem destaque ‘O Mundo de Clarice Lispector’ (1966); ‘Poesia de Mário Faustino’ (1966); ‘Farias Brito: Trovas Escolhidas’ (1967); ‘O Dorso do Tigre’ (1969); ‘Leitura de Clarice Lispector’ (1973); ‘Oswald Canibal’ (1978); ‘O Livro do Seminário’ (1983); ‘Passagem para o Poético: Filosofia e Poesia em Heidegger’ (1986); ‘O Tempo na Narrativa (1988)’; ‘A Paixão Segundo GH/ Clarice Lispector’ (1988); ‘O Drama da Linguagem: uma Leitura de Clarice Lispector’ (1989); ‘O Crivo de Papel’ (1999) e ‘Hermenêutica e Poesia — O Pensamento Poético’ (1999).




Uma carreira premiada




A reconhecida trajetória como filósofo, escritor, professor, crítico e ensaísta rendeu a Benedito uma série de homenagens e premiações ao longo de sua carreira. Dentre as mais importantes destaca-se o recente prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL) no ano passado, pelo conjunto de sua obra.


Segundo a ABL, Benedito foi laureado por se situar na linha de grandes pensadores existenciais, como o alemão Martin Heidegger e o francês Jean-Paul Sartre, podendo ser classificado como “um estudioso capaz de construir pontes entre a interpretação do texto literário e a sondagem filosófica, no caso fenomenológico”.
Entretanto, à época, Benedito não pode ir até o Rio receber a homenagem. Uma crise hipertensiva provocara a internação do escritor em um hospital de Belém. A missão de representá-lo na cerimônia coube ao mestre em Filosofia, amigo e discípulo de Benedito, Victor Pinheiro.


Bené também foi agraciado em duas ocasiões com o Prêmio Jabuti, principal prêmio literário brasileiro, nos anos de 2010 e 1987, nas categorias Teoria/Crítica literária e Estudos Literários.




Em reconhecimento à valiosa colaboração do filósofo para a Academia, a Universidade Federal do Pará lançou em 2009 o Prêmio Benedito Nunes. A premiação é bianual e atribuída à melhor tese de doutorado, como fomento a pesquisadores e a programas de pós-graduação dos Institutos de Ciências da Arte, de Filosofia e Ciências Humanas e de Letras da Universidade.




Coordenadora do Prêmio, a pesquisadora Lilian Chaves disse que a homenagem fazia jus ao nome de um mestre paraense que conquistou a admiração dentro e fora do seu país. E a premiação surgiu como forma de agradecimento da Instituição que ele ajudou a criar e a fortalecer como um dos fundadores do curso de Filosofia e da Escola de Teatro e Dança da UFPA. Seria uma maneira de tornar vívida e permanente a lembrança do eterno professor.



(Luana Laboissiere, DOL)

Um comentário:

  1. Saiu na Folha de São Paulo a notícia do falecimento de Benedito Nunes, Fernando Paixão, poeta e professor da IEB-USP escreveu: (...)Quando adolescente, recebia com frequência em Belém do Pará, uma remessa de livros enviada pelo tio médico e tradutor amador residente em São Paulo.
    A cada envio, era uma alegria e uma vereda nova que se abria para a curiosidade do rapaz, que começou a escrever versos e se tornou um dos maiores intelectuais brasileiros. Em alguma medida, essa história contém a chave de sua existência.
    Continuou sempre fiel a sua cidade de origem, mas atiçado pelo gosto confesso de viajar, fosse por conta dos compromissos universitários ou pela curiosidade pessoal. (...)Quem teve o privilégio de conviver com ele, pôde conhecer uma feliz combinação entre inteligência e simpatia,rigor intelectual e despojamento. Pessoa rara.

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