A perda!
O dia ensolarado,
as ondas do Atalaia como um manto de Nossa Senhora,
os redeiros, os artesãos, aos gritos e com muita saliva entoando seus hinos de marretagem,
a praia limpa, mas nem tanto, alguns monturos de lixo aqui e acolá,
diziam da consciência ecológica da população da praia,
a conversa ia e vinha, não era calmaria, mas era harmonia,
a areia fina,
os castelinhos das crianças,
os vendedores de pipa,
os carros com sons bem altos e mau educados,
na chegada a praia vislumbrava-se aquele tapete multicolorido de guarda sóis,
carangueijo toc-toc, pratiqueira e pescadinha na barraquinha,
de repente o susto,
cadê o menino?
cadê o menino?
o menino com sua prancha?
não, comigo não, conosco não!
isso não podia ser como tantos que já foram,
mas comigo não!
o que seria da mãe, e da irmã?
não! não! não!
já se passaram pelo menos 30 minutos e o menino sumiu,
todos tem que me ouvir: o menino sumiu!
Ei!! o menino sumiu, eu quero que todos ouçam meu ofegante pensamento,
vi a prancha amarela, a sunga azul, o corpo magro e moreno,
como um adesivo nos olhos,
bombeiro, cadê meu filho?!
guarda, socorro!
vendedor de bugiganga, me ajude!
todos que bricam como se nenhum drama estivesse acontecendo, olhem por mim,
olhem, o menino sumiu, eu estou desesperado!
vai para oeste que eu vou para leste, ou para norte, quem sabe pro sul,
a praia é a mesma mas meu filho sumiu,
meus olhos esbugalhados,
eles não param nas óbitas,
meu nó na garganta,
minha barriga que dói,
a panturrilha cansada,
por favor meu Deus, o menino sumiu!
me ajude!
derrepente, o olhar naquele corpinho,
a onda, não era do mar, que sobe pela espinha,
elétrica, esfriando a zero grau naquele sol causticante,
a prancha, a sunga, o tempo que já corria célere,
o grito delirante, a boca espumante, o coração saltitante,
achei o menino!!!
achei!!
o menino!!
descancei, gemi mudo, agradeci a Deus,
corri e o abracei,
já se iam uma hora e meia,
não quero imaginar que a perda poderia ser maior,
saí com ele orgulhoso e o entreguei a mãe choroso e desesperada,
o sol já se punha no horizonte,
já era mais silêncio na praia,
muitos buscavam os veículos e caminhavam preguiçosamente pelas areias,
ninguém se preocupava com tristezas,
nós ali, com nossos corações silenciosos,
com seus compassos normalizados,
caminhávamos lentamente e desligados da euforia ao redor,
olhando o menino,
(nós o tínhamos perdido, mas ele mesmo não se perdeu),
bem pertinho,
bricando, com a vida sem saber,
olhando-nos seguro,
e nós lhe amando,
sem perceber porque, dali em diante, um enorme tédio nos envolveu,
e no dia seguinte voltamos para casa,
e só o menino reclamou.
Colaboração: Nilson Mesquita, integrante da ACLA, titular da Cadeira número 12.
23/04/11
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