segunda-feira, 23 de maio de 2011

De Verso em Prosa - Poemas e Devaneios

O que será de mim? Reflexões de um mendigo

Nunca escreveram minhas poesias,
quando percebi você, foi apenas um foco unilateral,
vagava pelas ruas, transparente,
vivia sem dor, mas sem amor,
buscava praias distantes, mas nunca arredei um pé sequer daqui,
penso expandir meus horizontes,
mas quem vai me olhar?
como brilhar?
que distância percorrer?
olho para todos os lados,
vejo luz,
não vejo sorrisos,
apenas máscaras,
onde muitos dramas se escondem,
caído, desengonçado e desequilibrado,
não me remeto mais com audácia,
já calculo demais,
mas, e o sonho?
e aquele dia sob a árvore, olhando o rio,
a corrente leve,
a canoa velejando,
o remador...
e o sonho?
o moleque correndo nas ruas,
de peito aberto,
o adolescente brincando e “nem aí” para o futuro,
a paz por dentro e por fora,
porque tudo acabou?
.............................................................................
.............................................................................
.............................................................................
não tenho mais nada p’ra dizer,
fico só lamentando que seja assim,
dia após dia de dia após dia,
homens e mulheres passando apressados,
infiltrados em si mesmos,
com suas lindas histórias, talvez,
o que pensam essas mentes?
o que fazem esses corpos céleres?
...........................................................................
...........................................................................
não sei se levanto da calçada que me acolhe tantos anos,
minhas mãos estiradas já não descem mais,
minha cara marcada pelo disfarce já não convence,
não sei nem quem eu sou,
só minha cachaça, minha droga me amam,
fujo constantemente em sua companhia,
faço viagens alucinantes,
e quando eu volto,
está aí ainda a rua, o cheiro podre do meu próprio corpo,
um sem número de rostos me rejeitando,
os bolsos vazios,
a barriga gemendo,
penso que um sorriso pode me mostrar melhor,
mas esqueci de olhar no espelho há muitos anos,
e o que tenho são apenas caretas com meus cacos de dentes pretos e estragados.

Uma menina para e me olha com ternura,
levanto as mãos abertas e olho triste, de verdade,
ela não coloca nem uma pequena moeda sequer,
aquelas pequenas mãos tocam as minhas levemente,
aperta-as,
eu fecho meus olhos,
aprecio ao máximo aquele momento raro,
não lembrava mais como era o toque do amor,
não é possível explicar,
foi eterno aquele momento, quase desmaio de prazer,
que saudade de mim!
faziam horas que a menina se fora,
mas não ousei abrir os olhos,
não sentia mais fome,
nem via ninguém passar,
nesse dia levantei, fui tomar banho,
arrumei roupas limpas,
andei pela cidade,
pensei,
mas alguns toques daquele eu levanto de vez.

Chegou a noite e foi assim,
quase como sempre,
a diferença, é que agora,
uma menina me tocou!

Autor: Nilson Mesquita (Cabôco Nirso), integrante da ACLA, titular da Cadeira número 12.

Nenhum comentário:

Postar um comentário